O nosso colega, Cônsul-Geral do Japão em Minas Gerais, Wilson Nélio Brumer, lançou sua biografia intitulada Brumer e a Testa Fria de Jacó. A obra oferece um mergulho profundo na trajetória pessoal e profissional do executivo, revelando a determinação, resiliência e perspicácia de um homem que superou inúmeros desafios para alcançar um sucesso notável. O Corpo Consular de Minas Gerais teve a oportunidade de entrevistá-lo, fazendo sete perguntas que exploram os momentos mais marcantes e as lições de sua carreira.
1- “Brumer e a Testa Fria de Jacó” traz uma narrativa envolvente sobre a sua vida e carreira. O que o inspirou a publicar essa biografia e compartilhar suas histórias com o público?
A iniciativa partiu da insistência da minha família em ver registrada a minha trajetória, em especial após o nascimento dos meus netos. Confesso que tive resistência inicial com a ideia, pois nunca quis parecer vaidoso ou arrogante, e durante um longo tempo adiei essa decisão. Mas acabei concordando e convidei a Júnia para o desafio e ela aceitou.
2- Como a cultura mineira influenciou sua forma de conduzir negócios e sua atuação no setor público? Algum “causo” mineiro do livro foi especialmente marcante ou desafiador para você?
Sou mineiro de Belo Horizonte, nascido no bairro da Pompéia. E creio firmemente que a cultura de Minas faz parte da minha história e me ajudou a enfrentar muitas situações pela vida. Gosto desse jeito comedido, ponderado, cuidadoso. E o livro está recheado de “causos” que não são necessariamente vividos em Minas, mas que carregam parte dessa visão equilibrada dos mineiros de “não ir com muita sede ao pote” ou de “carregar água na peneira”, só pra citar algumas expressões que caracterizam o jeito de ser do nosso povo.
3- Sua trajetória inclui experiências no setor público e privado, cada um com dinâmicas muito distintas. Como essas vivências contribuíram para o profissional que você se tornou e como elas se refletem nas páginas da sua biografia?
A maior parte da minha trajetória se deu no setor privado, mas sempre estive à frente de negociações com o setor público, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. A experiência com a gestão pública em si se deu no tempo em que fui superintendente, diretor Financeiro e presidente da Vale quando ela ainda não era privatizada e, mais tarde, como secretário de Desenvolvimento do primeiro governo de Aécio Neves em Minas Gerais. Acho enriquecedor ter a visão dos dois lados. Contribuir com o governo foi a minha forma de devolver ao cidadão um pouco do que aprendi gerindo empresas de grande porte na tentativa de mostrar que o Estado pode sim ser muito eficiente.
4- Ao longo de sua carreira, o que considera como as maiores lições ou princípios que compartilha no livro e que julga fundamentais para aqueles que desejam construir uma trajetória sólida e ética?
Minha trajetória de menino pobre, que passou pela sólida formação de justiça aprendida num seminário, se somou à força que vi em minha mãe e à ética que é legado do meu pai, falecido quando eu era bem pequeno. Acho que esse tripé “justiça-força-ética” me guiaram pela vida, permitindo que eu refletisse antes de tomar decisões para avaliar qual o melhor caminho a seguir. Eu somaria a isso o valor da humildade para aprender e da paciência para negociar. Creio que minha trajetória reflete muito firmemente esses princípios.
5- Além dos relatos pessoais, o livro aborda sua atuação como Cônsul Geral Honorário do Japão em Minas Gerais. Como a diplomacia tem complementado sua vida profissional e quais aprendizados adquiriu dessa experiência?
Acredito que o convite feito pelo consulado japonês partiu da maneira como sempre nos relacionamos desde os tempos da Usiminas. Mesmo antes, atuando em empresas multinacionais, esse contato existia, mas ele se intensificou na época em que fui gestor na siderúrgica, que teve uma empresa japonesa em sua participação acionária desde o início das atividades. No governo de Minas esse contato também foi intenso. Trata-se de um povo que leva muito em conta a verdade, a sinceridade e a lealdade. Isso não nos faltou em nenhum momento. Então acho que o mérito se deve à sinergia em nossa forma de pensar e de conduzir negócios.
6- Se pudesse escolher um único momento ou decisão narrada no livro que foi transformador para sua carreira e visão de mundo, qual seria? E como esse momento moldou o caminho que você seguiu?
São muitos momentos, muitas experiências, pode acreditar. Mas vou falar de uma em especial que me marcou profundamente. Quando assumi a presidência da Acesita, então uma siderúrgica estatal deficiente, precisei assumir o desligamento de 30% do contingente de empregados, tanto na usina quanto no escritório-sede. Fiquei noites sem dormir, pensando nessas pessoas e em suas famílias. Foi muito difícil. Eu estava chegando, a medida era drástica, mas necessária para que a empresa sobrevivesse. Tive que optar pelo emprego dos que ficaram, pois sem isso em pouco tempo eles também não teriam onde trabalhar. Tomamos várias medidas para gerar emprego para essas pessoas, mas mesmo assim essa é uma passagem que não esqueço.
7- Ao compartilhar sua história, que mensagem espera deixar para os jovens empresários e líderes que enfrentam os desafios do mercado atual? Há algo em sua trajetória que gostaria que eles tivessem como referência?
Volto à resposta da questão 4. Em qualquer tempo ou lugar, a ética é essencial para gerar negócios justos, equânimes e eficientes. Não adianta falar em nenhuma inovação se ela não for guiada pela justiça. E justiça implica em equilíbrio nos ganhos, em valorização das pessoas, em transparência nas ações, em uma intenção firme de que o desenvolvimento seja sustentável e, dessa forma, melhore a vida de todos.
Em nome do Corpo Consular de Minas Gerais, expressamos nosso sincero agradecimento e parabenizamos o Sr. Brumer por sua inspiradora trajetória, tão bem narrada em sua obra “Brumer e a Testa Fria de Jacó”. Sua história, repleta de princípios éticos, de justiça e de dedicação, é um exemplo valioso para todos que buscam construir uma carreira sólida e comprometida com o bem-estar social. Que suas vivências e ensinamentos continuem a inspirar líderes e jovens empreendedores a trilharem caminhos pautados pela ética e pelo equilíbrio.