Entrevista Ricardo Costin para o Corpo Consular

O Corpo Consular entrevista, nesta edição, Ricardo Costin, cônsul honorário da Romênia em Minas Gerais, empresário e executivo renomado, uma figura proeminente do setor automotivo. Com uma carreira brilhante que abrange desde a engenharia mecânica até a liderança em grandes empresas, participando de negociações de compra e venda de concessionárias. Se destaca como um líder de sucesso em inovação. Sua trajetória inspiradora e sua visão única sobre a indústria automobilística refletem uma combinação rara de expertise técnica e habilidades estratégicas, tornando-o uma referência no mercado.

01 – Sr. Ricardo, sua trajetória no setor automotivo começou na infância. Poderia nos contar um pouco sobre como essa paixão se desenvolveu ao longo dos anos?

Minha família morava em São Paulo, e aos 13 anos, por uma inspiração difícil de explicar, me apaixonei por tudo que se move e tem motor. Nos anos seguintes, participei de competições de kart com a mesma turma em que o grande Ayrton Senna se destacava, competi com barcos a motor, reformei um carro antigo na garagem da casa dos meus pais e corri de VW Passat no campeonato brasileiro. Foi no torneio Passat que conheci vários mineiros que dominavam as pistas na época, como Toninho da Mata, Clemente de Faria, Robertinho Morão, Carlos Alberto Junqueira (pai do futuro campeão Bruno Junqueira), entre outros.

Essa paixão me levou a estudar engenharia mecânica e integrar o Laboratório de Motores do Instituto Mauá, onde trabalhei como pesquisador de motores a álcool no auge do projeto Proálcool do governo brasileiro. Essa foi outra aventura muito enriquecedora.

Trabalhei na Ralt, uma fábrica de carros de corrida na Inglaterra, e, posteriormente, retornei ao Brasil para atuar na engenharia da Ford, uma verdadeira escola. Fiz um mestrado de negócios na Wharton School, a prestigiosa escola na Filadélfia, o que me abriu as portas para trabalhar na França, primeiro na McKinsey, uma grande consultoria, e depois na Renault, em Paris e Marselha.

Finalmente, voltei ao Brasil para atuar na Fiat, em Betim. De lá, migrei para o setor de distribuição automotiva, tornando-me concessionário de marcas como BMW, Volvo, Mitsubishi e Peugeot.

 

  1. Como o senhor se conectou com a Romênia, e de que maneira essa relação influenciou sua carreira e suas atividades empresariais?

Meu pai nasceu em Bucareste, na Romênia, mas deixou o país sozinho em 1947, aos 19 anos, durante a tomada de poder pelo regime comunista. Após caminhar por três meses, chegou a Paris, onde parentes distantes lhe deram abrigo. Dois anos depois, ele embarcou para o Brasil, estabeleceu-se em São Paulo e tornou-se um empresário bem-sucedido.

Enquanto a ditadura de Ceaușescu vigorou na Romênia, meu pai se manteve distante do país. Em 1989, com a queda do regime e o retorno gradual da democracia, ele usou seus contatos no Brasil para fortalecer as relações comerciais e culturais entre os dois países.

Após o falecimento do meu pai, dei continuidade ao trabalho dele de recuperar bens dos meus avós, nacionalizados pelo regime comunista. Apesar de ser um processo trabalhoso e ainda sem resultados práticos até hoje, isto foi uma benção disfarçada para mim. Ao fazer mais de 8 viagens para Bucareste nos últimos anos, conheci com muito mais profundidade a terra e a história dos meus antepassados. Foi um despertar! Descobri um país lindo, organizado e acolhedor. Sinto grande satisfação em apoiar meus conterrâneos espalhados por Minas Gerais e por todo o Brasil a recuperarem suas cidadanias romenas. Também incentivo os brasileiros que desejam visitar e explorar a Romênia, esse belo país que foi o berço da minha família.

Hoje, tenho a honra de ocupar uma das vice-presidências da Câmara de Comércio Brasil-Romênia, apoiando as iniciativas para facilitar as trocas comerciais entre os dois países. Já houve várias delegações de empresários brasileiros que interagiram com seus pares romenos e vice-versa. E é interessante destacar que o principal item de exportação do Brasil para a Romênia é o minério de ferro, enquanto a importação inclui autopeças. Isso se explica pelo fato de que a Romênia abriga uma enorme planta da Renault, responsável por abastecer o Brasil e a Europa com caixas de câmbio e outros conjuntos automotivos.

Além disso, a Romênia é um importante produtor de vinhos de qualidade, que recentemente começaram a ser distribuídos no Brasil.

  1. O setor automotivo está passando por mudanças significativas, como os carros elétricos, a chegada das montadoras chinesas, a locação de carros por assinaturas, etc. Quais são os principais desafios que os empresários enfrentam com estes desafios?

O setor automotivo enfrenta grandes desafios globais, e o Brasil não é uma exceção. Os carros elétricos vieram para ficar, mas sua adoção tem sido mais lenta do que o esperado, com a resistência dos consumidores. Custos de produção elevados, infraestrutura limitada para recarga e a tecnologia ainda em desenvolvimento são barreiras significativas, contribuindo para a baixa adoção dos elétricos em comparação com as expectativas dos governos e montadoras.

Simultaneamente, a expansão das montadoras chinesas preocupa as marcas tradicionais, como as japonesas, coreanas, europeias e americanas. Em resposta, algumas optaram por fusões ou aquisições na esperança de ganhar ou pelo menos manter suas escalas. A Stellantis foi pioneira nesse movimento, e vemos agora a Nissan e a Mitsubishi sendo delicadamente engolidas pela Honda. Outras, europeias ou americanas, terão que seguir esse caminho.

As grandes locadoras têm aproveitado a atual fragilidade das montadoras para adquirir veículos com desconto em grandes volumes e oferecê-los por assinatura aos clientes finais. Com isso, o canal de concessionárias enfrenta um risco significativo de encolhimento.

Neste panorama sombrio, a única coisa que não mudou é o uso de carros pessoais pelos consumidores. Uber e outros modelos de compartilhamento de veículos cresceram, mas não substituíram a posse. Além disso, a chegada dos carros autônomos foi postergada para um futuro mais distante, possivelmente entre 2030 e 2035.

E se há consumidores desejando automóveis, com certeza haverá montadoras produzindo e distribuidores colocando esses carros nas mãos dos compradores.

Agradecemos imensamente ao Ricardo Costin por ter concedido esta importante e exclusiva entrevista ao nosso Corpo Consular. Sua generosidade em compartilhar conosco sua vasta experiência e sua visão única sobre o setor automotivo são de enorme valor. É uma honra poder contar com a participação de uma personalidade tão proeminente e inspiradora, cuja trajetória profissional e compromisso com a inovação servem como exemplo para todos. Nosso sincero agradecimento por enriquecer esta edição com seu conhecimento e por fortalecer os laços que unem diferentes culturas e setores através de sua atuação exemplar.

 

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